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Lembrando Assisi
A igreja de Assisi, que é um ponto de referência do nosso trabalho na Europa, é fruto do esforço e dedicação de irmãos como a Tiziana ,Giulia, Walter e outros.

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Por ter nascido na cidade de São Francisco , a nossa Casa Regina de la Pace só poderia ter como patrono esta figura realmente ímpar na cristandade medieval que foi S. Francisco.

Situada aos pés da muralha da antiga cidade, a sede local está bem no começo da subida que o santo utilizava na sua rota freqüente desde a Porciúncula até S.Damião.

Em um terreno rodeado de ciprestes, parreiras e oliveiras, ergue-se um velho convento setencista restaurado, o salão da Igreja e duas casas. Ao leste vemos a cidade alta e a fortaleza. E ao oeste o povoado de Santa Maria dos Anjos, com sua imensa basílica, cuja estrutura envolve- com magnificência algo desmedida- a humilde e singela capela da Porciúncula, primeira igreja construída por Francisco depois de sua conversão.

Eu sempre ouvia falar da beleza do lugar. Nosso saudoso irmão Lúcio Mortimer, que foi um dos primeiros a visitar este local, não media seus elogios de bom devoto franciscano e sempre dizia: “Você tem que conhecer lá”.

Até que em 1998 conheci a Igreja de Assisi e senti um caso de amor `a primeira vista .Voltei lá várias vezes, estreitando muitos vínculos de amizade com tanta gente bonita e também curtindo a boa energia e aura espiritual que reverbera naquelas planícies luminosas da Úmbria.

Lá tive a oportunidade de fazer muitos trabalhos espirituais. E também de tomar o Santo Daime na condição de peregrino. Saía cedinho, com o frio ameno do começo do outono, sózinho ou em grupo, percorrendo os diversos sítios por onde andou S. Francisco, com a chance de passar tudo isto a limpo na força do nosso sacramento.

Por isso tudo foi uma experiência enriquecedora e inesquecível trilhar as pegadas do nosso pai seráfico. Com uma garrafinha de 3x1 e um exemplar das Obras Completas do santo, percorri o Tugúrio, rezei o rosário dentro da capela da Porciúncula, acompanhei a missa das clarissas em São Damião, meditei nas covas de Frei Leão e frei Egídio.

Isto sem falar na visita que fizemos ao eremitério da Verna, o famoso Monte Alverne, onde Francisco se recolhia todos os anos para a novena de São Miguel e onde recebeu seus estigmas. Ali tudo é mais grave, relembra os sofrimentos inauditos que ele passou nos últimos anos de sua vida.

Mas de todas estas experiências maravilhosas, uma particularmente me deixou muitas marcas. Foi quando fui terminar uma miração no Ermo del Cárcere, no alto do Monte Subásio. Naquelas cavernas viveram Francisco de Assisi e seus primeiros companheiros da ordem mendicante. Ainda hoje, entre espécies centenárias, se encontra a árvore onde S.Francisco pregou para os pássaros.

Depois de meditar, rezar e folhear as Legendas ( as biografias da época sobre o Santo) , sai a passear pelos bosques, sentindo muita alegria no coração.Num determinado momento desci por uma escada de pedra até um ponto onde havia um grande precipício.Era uma fenda numa das faces do monte e talvez por isso o vento penetrava ali com mais facilidade.

Eu ainda estava mirando e procurei um local para passar a miração. Reclinei na relva e fiquei entregue `a plenitude daquele momento.Subitamente senti o vento me envolver. As copas das árvores balançavam de uma forma cadenciada, como numa valsa.Abri o livro meio ao léu até que me deparei com um trecho que descrevia uma passagem que São Francisco teve com o vento, no local onde recebera o Canto das Criaturas.

Fechei os olhos e uma voz me disse:” este bem poderia ser o vento que ele sentiu quando estava compondo a estrofe dedicada ao irmão vento”.Fiquei absorto por alguns momentos. Uma meia hora depois,quando a “pegação” do daime passou, empreendi o caminho de volta.Ao passar novamente pela escada de pedra e subir até o topo, me deparei com uma placa entalhada na madeira que não vira na descida.Nela estava escrito:Descida para o local onde S.Francisco, segundo a tradição, compôs o Cântico `as Criaturas”. Para mim isto foi um presente que eu nunca me esquecerei.

Por isso é impossível não se sentir triste e mesmo revoltado com a prisão dos nossos irmãos e irmãs de Assisi e também de outras localidades da Itália, confundidos e tratados como criminosos.

Tenho certeza de que S.Francisco, que também é nosso patrono, dará suas mãos a este povorelli daimista. Como sempre deu para aquele que sofrem as injustiças. Tenho certeza que este equivoco será desfeito, como foi em outros lugares.

E que em breve possamos exercer nosso trabalho a luz do dia.


Viva São Francisco!
Viva a liberdade do Santo Daime!


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