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Canadá: a sentença dos Uyunkars
As informações que se seguem foram relatadas por Hugues Bonenfant, que esteve presente na audiência do caso Uyunkar em 24 e 25 de abril 2003, à Ilha Manitoulin, Província de Ontário, Canadá.

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Religiosa"


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Caros amigos e amigas,

O processo de Juan Uyunkar e Edgar Uyunkar terminou. As audiências preliminares datando do 31 de março 2003 ao 24 de abril 2003 permitiram à Corôa e à Defesa de chegar a uma negociação sobre diferentes pontos, assim a audiência foi feita em um só dia (24 de abril 2003) e o veredito foi dado no dia seguinte.

A rápida resolução do processo deve-se ao abandono de todas as acusações contra Maria Ventura (a tradutora) e ao abandono da acusação contra Juan e Edgar Uyunkar de negligência criminal causando morte.

As acusações que permaneceram foram: tráfico e administração de uma substância controlada (a saber, a harmalina contida no cipó Banisteriopsis caapi). Os Uyunkars se responsabilizaram por essas acusações. O Natem\Ayahuasca ministrado no dia da cerimônia era constituido do cipó, sendo usada naquela noite, segundo Juan Uyunkar, como um purgativo. Os participantes foram convidados a tomar também uma mistura de tabaco e sal em forma sólida, do tomanho de um grão de arroz.

Durante a declaração da sentença, foi levado em consideração que os Uyunkars estavam em liberdade condicional na província de Ontário há mais de 17 meses. Edgar Uyunkar foi condenado a 1 dia de prisão, devendo retornar ao Ecuador dentro de 14 dias. Ele viajou no dia 29 de abril. Juan foi condenado a 12 meses de mais em liberdade condicional na província de Ontário, mais 150 horas de trabalho na comunidade indígena onde se encontra (Ilha Manitoulin). Juan está proibido de dirigir rituais com uso de substâncias controladas. Ao final de 12 meses, Juan deverá retornar ao Equador.

O caso é muito delicado e complexo, mas o sábio Juiz soube render justiça tanto aos familiares da falecida, quanto aos dois curandeiros. O julgamento contribuirá para apaziguar as tensões decorrentes ao caso, que surgiram na comunidade indígena da Ilha Manitoulin.

É necessario ressaltar que o Juiz não considerou todos os argumentos da Corôa Provincial, tais como o hipotético comportamento irresponsável dos acusados, a "negligência", a "quebra de confiança" e nem considerou necessária a aplicação de "uma pena exemplar e dissuasiva"; assim o pedido da Corôa Provincial por uma extensa pena de prisão não foi acatada pelo Juiz. Além disso, o Juiz recusou-se a fazer uma ligação direta entre o óbito da sra. indígena e o consumo do Natem\Ayahuasca. O fato é que outras pessoas residentes na comunidade sofriam de doenças graves como o diabetis e notaram uma clara melhora de sua saúde depois que participaram de cerimômias com os Uyunkars. No entanto, ele admitiu que o fato da morte constituia um agravante neste caso. Quanto à causa exata do óbito, o Juiz declarou que "somente o Criador poderia ter o conhecimento exato."

Dentre as numerosas cartas de apoio que a Defesa recolheu, um número de 34 cartas, enviadas por autoridades equatorianas, por participantes das cerimônias de Manitoulin e por especialistas no assunto, etc., foi apresentado com o objetivo de estabelecer a notoriedade de Juan Uyunkar e seu filho Edgar e o valor da Medecina sagrada. Os testemunhos contidos nessas cartas, a bona fide dos envolvidos e a legalidade da Ayahuasca em um contexto espiritual e\ou terapêutico em diversos países pesou favoravelmente na decisão do Juiz.

Por outro lado, a Corôa Federal não estava interessada em discutir os méritos das "medecinas holísticas", segundo suas próprias palavras, mas de fazer conhecer alguns limites. O Juiz considerou em parte o pedido federal no julgamento, visto que o componente químico harmalina se encontra na lista III de substâncias controladas no Canadá. Porém, foi também declarado pela Defesa que o resultado da autopsia "detectou apenas resquícios" de harmalina e nenhuma quantidade ou concentração foi especificada ou considerada. Deste modo, não se pode afirmar que o Juiz chegou à sua sentença baseado em alguma limitação das « medecinas holísticas », tal como desejava a Corôa Federal do Canada.

Ao dar sua sentença, o Juiz utilizou-se de termos muito respeituosos ao citar a Ayahuasca e as cerimônias ( Medecina sagrada, cerimônias espirituais sagradas , alto teor espiritual ", etc.), assim parece que ao fim a Ayahuasca saiou limpa. Embora o veredicto seja a condenação dos envolvidos, o fato é que, o Juiz reconheceu essa Medicina ancestral e sagrada com palavras tão respeituosas, permitindo a confiança de que, à partir desse caso, se encontram nas mãos das autoridades canadenses informações corretas sobre as práticas terapêuticas e espirituais implicando o uso da Ayahuasca.

Em conclusão, agradecemos a todos aqueles que colaboraram espiritual, moral ou financeiramente para o justo desfecho do caso Uyunkar. Estamos certos de que uma rede de solidariedade entre pessoas ligadas a diferentes tradições e linhagens espirituais está sendo criada de maneira progressiva e sólida.

Harmonia, Amor, Verdade e Justiça.

Hugues Bonenfant
Assitente do Comitê de Defesa de Juan e Edgar Uyunkar
Débora Bolsanello
Assitente do Comitê de Defesa de Juan e Edgar Uyunkar

 


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