Prefácio
O ritual de uma doutrina viva é um guia, um mapa simbólico que nos ajuda a percorrer com maior facilidade os intricados caminhos do conhecimento espiritual. Uma vez fossilizado, tanto o ritual quanto a doutrina podem se tornar um entrave, uma autêntica camisa de força para os seus participantes. Por isso mesmo é que devemos evitar os extremos tanto de ignorarmos as prescrições tão sábias da tradição como a fossilizarmos a ponto de ficarmos presos a fórmulas ocas e exteriores.
Nesse sentido deve haver sempre um zelo e um respeito em relação àquilo que foi prescrito pelos mestres, sem que isso impeça a tradição de manter o conteúdo de sua mensagem atual e útil para as diferentes necessidades de cada época.
O perigo está, portanto, nos dois lados. O Padrinho Sebastião costumava dizer que “espiritualidade é respeito”. Algumas pessoas encontram dificuldade de aceitarem ou compreenderem as normas de ritual, porque não gostam de se submeter a nenhuma escola ou disciplina. Mesmo reconhecendo que existam pessoas nas quais a espiritualidade esteja acima de quaisquer convenções, acreditamos ser necessário se valer de algumas práticas, ritos e símbolos para galgarmos os diferentes degraus da vida espiritual.
É bom alertar igualmente que o simples enunciado e descrição de nossos rituais apresentados neste texto, que visa o estudo e o aperfeiçoamento do nosso trabalho, não concede nenhum poder especial aos nosso leitores, de tal modo que eles possam se sentir capazes de virar um dirigente espiritual da noite para o dia, pensando que basta para isso recitar as passagens de um manual. Sem dúvida, como já mencionamos, esse pequeno livreto pode prestar uma ajuda inestimável para todos que trabalham nas diversas frentes de nosso atendimento espírita. Mas sua leitura e aplicação não substituem o árduo aprendizado, o amor e a caridade e as virtudes éticas que só são possíveis através de uma vida dedicada à evolução espiritual. E também a legitimidade que precisa ser concedida através de uma investidura feita por representantes autorizados da linhagem espiritual de uma determinada tradição. Mas a medida que o ritual é consagrado, torna-se um instrumento, um recurso, uma linguagem, uma convenção que deve ser apoiada e seguida por todos. Pelo menos enquanto ele está dando provas de cumprir o seu papel. Em última instância, o cenário do nosso ritual deve ser um espaço sagrado. Nele cantamos, meditamos, canalizamos energias, irradiamos energia e nos curamos. Não foi à toa que o padrinho Sebastião uma vez resumiu este assunto da seguinte forma: “Espiritualidade é respeito”.
Este livro se constitui, portanto, num ponto de referência de consulta obrigatório para todos os membros da ICEFLU e pode nos ajudar a nos tornarmos mais conscientes e preparados para o cumprimento da nossa missão espiritual. Este trabalho, que está sendo colocado à disposição de todos os associados do ICEFLU, faz parte de um pedido feito há mais de trinta anos pelo nosso saudoso Padrinho Sebastião, a partir de uma palavra que ele escutou do próprio Mestre Irineu, no sentido de documentar e registrar cada vez mais o nosso Centro, seus preceitos, princípios e normas. Parece que o olho profético do nosso Padrinho já enxergava longe e ele sentiu como esta organização seria necessária para os “tempos vindouros”, como ele costumava chamar o tempo futuro de expansão e crescimento de nossa Doutrina da floresta para o mundo.
Pois bem, os tempos vindouros já chegaram, estamos vivendo nele e este trabalho de sistematização cada dia se torna mais necessário. Recentemente tivemos a oportunidade de dar um grande passo nessa direção com a realização do IX Encontro em Mauá. Agora, o Conselho Doutrinário Ritual, criado a partir do novo estatuto, está encarregado de dar à luz ao Livro de Preceitos, onde serão reunidos os estatutos, regimentos internos, portarias e decretos, nossos fundamentos e princípios ético-doutrinários, instruções e orientações de interesse geral.
Esta edição das Normas de Ritual que estamos oferecendo agora é uma parte deste trabalho. Resolvemos publicá-la de imediato devido ao grande interesse que o tema desperta e que tem gerado inúmeros pedidos para que este material fosse antecipado ao Livro dos Preceitos. Desta forma estamos possibilitando um ponto de partida que certamente irá ajudar o aprimoramento e a padronização do nosso ritual. Esperamos igualmente que a divulgação deste trabalho fortaleça o papel dos Conselhos Doutrinários locais, que terão, assim, um ponto de referência para o aperfeiçoamento do nosso trabalho espiritual. Nesta edição estamos abordando apenas os rituais considerados oficiais. Existem outros trabalhos de uso mais ou menos difundidos e consagrados. Ao Conselho Doutrinário e Ritual cabe a constante atualização destas normas ou mesmo a incorporação de novos procedimentos e trabalhos no calendário oficial.
Como responsável pela edição e coordenação deste livro e dos demais textos institucionais, gostaria de agradecer o apoio dado pelo presidente do ICEFLU, Padrinho Alfredo Gregório de Melo, e do presidente do Conselho Doutrinário Ritual, Padrinho Valdete Mota de Melo, ambos empenhados no fortalecimento do nosso processo institucional e padronização do nosso trabalho ritual.
Gostaria também de agradecer a valiosa contribuição das madrinhas Rita, Julia e Cristina, verdadeiras guardiãs da memória viva de nossas tradições rituais. Em várias oportunidades este texto foi lido, comentado, e passado a limpo com elas. Também indicações importantes foram dadas por Regina Pereira e Gecila Carneiro. Ficam também os agradecimentos à equipe que colaborou nesse projeto: Luis Fernando Nobre, na compilação e entrevistas, Nelson Liano Jr. na produção e editoração. Tetê Paz Leme na arte de capa , Nilton Caparelli na revisão e Sonia Alverga na recopilação e atualização desta segunda edição.
Alex Polari de Alverga
Assessoria de relações institucionais/comunicação
Membro do Conselho Doutrinário e Ritual