Site do Centro de Documentação e Memória - ICEFLU - Patrono Sebastião Mota de Melo

Tradução Google

Portuguese Dutch English French German Italian Japanese Spanish

Código de Ética

Toda doutrina espiritual se origina de um conjunto de revelações espirituais dos seus fundadores. Por sua vez, estas revelações e experiências espirituais marcantes dão origem a um conjunto de ensinamentos e práticas. No entanto, como tudo isto acontece numa cultura específica e num tempo determinado, estes fatores culturais sempre estão misturados dentro do corpo doutrinário.

O maior desafio nestes casos é que quanto mais uma tradição se expande e universaliza, nem sempre é possível transpor integralmente o contexto cultural onde ela é gerada. Isto exige uma grande sensibilidade para manter a essência dos seu ensinamentos e ao mesmo tempo a flexibilidade para que estes possam ser corretamente assimilados pelo novo contexto cultural

No nosso caso não poderia ser diferente. Desde os tempos do Mestre Irineu e depois, no seguimento dado pelo Padrinho Sebastião, nosso movimento sempre esteve impregnado destes valores “caboclos”. Depois, a própria expansão colheu gente dos mais diversos segmentos sociais que tanto assimilaram estas influências culturais como por sua vez trouxeram outra cultura proveniente dos grandes centros urbanos.

Por isto torna-se muito importante a fixação dos preceitos espirituais e também de um código de ética que expresse os princípios universais de uma tradição que podem ser partilhados e aceitos por diversas culturas.  Principalmente na falta dos códigos orais e informais, estas garantias de uma conduta ética são indispensáveis.

Nosso verdadeiro código de ética se encontra dentro dos preceitos dos hinários. Neles encontramos ensinamentos de grande sabedoria para o nosso bem viver. No entanto, o crescimento da doutrina, seu desenvolvimento em outros países e outras línguas e culturas torna necessário definir alguns preceitos éticos para tornar estes princípios acessíveis para todas as culturas.

Para garantir que nossa prática espiritual possa estar sustentada nos valores universais e nos direitos humanos, inspirados em princípios positivos e sadios, válidos para todos os povos e culturas, definimos aqui alguns deste preceitos, constantes do nosso Código de Ética:

 

1) Prólogo

Como membros desta Irmandade, é nosso intuito manter as tradições da doutrina do Santo Daime, a fim de favorecer a transformação e evolução de todas as pessoas que buscam iluminação e cura para a mente, corpo e espírito. Desejamos também proteger, promover e encorajar a vivência da doutrina e de seus ensinamentos, o amor a Deus, amor à Terra e a todos os seres da criação, incluindo o amor a si mesmo, amor e respeito por todos os irmãos e irmãs, aceitar a verdade da  nossa revelação espiritual e ao mesmo tempo ter tolerância com as falhas de cada um, através da prática do perdão, compaixão e humildade.

2) Nosso propósito

Os membros da irmandade, tanto dirigentes quanto neofitos, devem realizar seu trabalho  desempenhar suas atividades com honestidade, integridade e sabedoria. A ninguém será concedido direito de se colocar acima das virtudes e dos valores apregoados pela Doutrina.

3) Direitos dos participantes

Procuramos preservar a autonomia e a dignidade de cada pessoa. A participação nos trabalhos deve ser voluntária e baseada em prévio conhecimento e consentimento dado individualmente por cada participante. O conhecimento prévio deve incluir a discussão de cada elemento da prática que possa representar risco físico ou psicológico, incluindo medicação contra-indicada ou considerações sobre a adequação da dieta. Os participantes devem  também ser avisados de que esta participação pode ser difícil e dramaticamente transformadora. O consentimento deve incluir informações sobre o histórico médico, formulários de consentimento e regras gerais para os trabalhos. Os limites de comportamento dos participantes e dos membros da comunidade deverão ser esclarecidos e acordados prèviamente. Todas as medidas cabíveis serão tomadas para assegurar a saúde e segurança dos participantes durante os trabalhos e durante os períodos vulneráveis que se seguirem a eles.

4) Confidencialidade

Respeitamos a privacidade e a confidencialidade de cada participante por ocasião dos  trabalhos espirituais e nas atividades sociais dentro comunidade. Desestimulamos o falar sobre outras pessoas e a propagação de boatos e informações sem fundamento comprovado do que ocorre na comunidade e na vida de cada um, o que se constitui naquilo que o Mestre denominava “correio da má notícia” . Entendemos que este tipo de prática mina a confiança e o respeito entre os membros, gerando competição , desconfiança e desunião. Em lugar disto, incentivamos o uso da sinceridade e da amabilidade como forma de uma comunicação clara entre todos e que seja também coerente com os valores dos hinários e das nossas crenças espirituais.

5) Dinheiro

Concordamos em respeitar a propriedade do outro, ajudar a implantar a consciência na utilização de todos os recursos da terra, manter a honestidade ao lidar com o dinheiro e em todos os momentos praticar ações comerciais claras e honestas. No espírito de servir, esforçamo-nos para facilitar a frequência aos trabalhos daqueles que eventualmente não possam contribuir com mensalidades, e outras formas de doação ou trabalho voluntário, conscientizando porém estes irmãos e irmãs da necessidade de se assumir algum tipo de responsabilidade material para a manutenção da nossa egrégora e a obtenção da nossa bebida sacramental, desde que esta seja voluntária, razoavel e adequada a condição de cada um. Respeitamos também a sacralidade do trabalho espiritual e evitamos a promoção de produtos e serviços ou quaisquer outras formas de solicitação ou exploração no ambiente dos trabalhos

6) Competência

Para manter a integridade dentro de nossa comunidade, reconhecemos a excelência do conhecimento espiritual praticado e preservado pelos mestres, padrinhos e madrinhas, anciões e anciãs da nossa tradição. Concordamos também que estes conhecimentos sobre nosso ritual, doutrina e administração do nosso sacramento devem ser legados para as novas lideranças espirituais através de um sólido processo de capacitação e transmissão deste conhecimento. Concordamos ainda em buscar a ajuda  de outras práticas e saberes específicos, mediante agentes e profissionais qualificados, que sejam benéficos para a assimilação das experiências espirituais profundas de transformação pessoal, principalmente aquelas que que envolvem questões de projeção, transferência e contra-tranferência.

7) Tolerância

Concordamos em praticar abertura e respeito pelas pessoas cujas crenças são contrárias às nossas. Compartilhamos os ensinamentos do Santo Daime com aqueles que procuram este caminho e estas verdades ao mesmo tempo em que reconhecemos que fazer proselitismo é proibido. Para ajudar a salvaguardar contra as consequências nocivas da ambição pessoal e organizacional, evitamos a promoção ativa da Igreja.

8) Uso de Substâncias

Não autorizamos o uso de qualquer substância ilegal durante os trabalhos ou na área do templo e suas vizinhanças.

9) Assédio e discriminação

Concordamos em garantir um ambiente livre de qualquer forma de assédio, incluindo discriminação por motivo de idade, sexo, religião, credo, origem étnica ou orientação sexual.   Para proteger o bem-estar de todas as pessoas, concluímos que relações sexuais inapropriadas,  imposição de opiniões, preconceitos ou preferências pessoais de qualquer tipo são prejudiciais ao bem-estar do indivíduo e da comunidade.

10) Integridade

Esforçamo-nos para estar conscientes de como nosso próprio sistema de crenças, valores, necessidades e limitações nos afeta e influi na nossa capacidade para servir aos outros de forma imparcial e isenta. Para evitar que ocorra , em alguma situação qualquer tipo de injustiça, estamos dispostos, sempre que necessário, a examinar nossas próprias motivações e praticar reflexões pessoais e auto avaliações coletivas que ajudem a promover o nosso próprio crescimento pessoal e dos demais envolvidos, no que se refere à ética.  Quando em dúvida se uma situação particular possa violar o Código de Ética, concordamos em consultar o conselho apropriado para escolher a melhor resposta. Se uma situação mostrar que o Código de Ética foi violado, concordamos em dizer a verdade e em ajudar a remediar a situação.

11) Conselho

No caso de conflitos ou dificuldades entre as pessoas, vamos procurar primeiro resolver o problema diretamente com o indivíduo. Se a situação não se resolver, concordamos em procurar primeiramente conselho e/ou orientação de um líder ou de um membro mais antigo da comunidade, o Padrinho ou Madrinha ligado(a) à Igreja/ponto, ou ao Conselho de Igrejas. Durante todo o processo deveremos nos ater aos princípios de confidencialidade acima citados.

 

Nossa tradição espiritual trás uma mensagem de amor cristão e de caridade. Nesta medida, ela tem correspondido a demanda de espiritualidade existente em todos os continentes. Estes princípios universais têm prevalecido, independente das diferenças de língua e de cultura. A expansão da nossa Igreja e a prática  da doutrina do Santo Daime nos diversos países onde ela tem se processado, tem sido, além do seu conteúdo espiritual, uma  manifestação de engrandecimento da língua portuguesa e da nossa cultura. Fato constatável no aumento considerável de  estudos e pesquisas acadêmicas sobre este tema, assim como o grande numero de irmãos e irmãs das igrejas do exterior que têm frequentado cursos de língua portuguesa e se interessado em estudar nossa cultura.