Controle Social e Cidadania
Certamente foram muitas as mudanças no sistema original de organização social dos tempos do Padrinho Sebastião. Inicialmente toda a comunidade era composta de membros praticantes da doutrina, irmanados pela mesma fé e valores espirituais. A exploração da terra e do trabalho era coletiva, em regime de mutirão e o paiol era comum e aberto para todas as famílias, pois todos trabalhavam.
Este sistema “socialista cristão”, complementado pela exploração da borracha que gerava renda para as compras básicas ou “estiva”, evidentemente passou por grandes transformações com o crescimento do nosso movimento. Principalmente a partir da expansão da doutrina, quando o advento do dinheiro como meio de circulação, substituiu o antigo sistema comunitário.
Inegavelmente, durante a evolução da comunidade surgiram problemas de diferenciações de classe principalmente por parte das pessoas que puderam aproveitar melhoras oportunidades geradas por este novo sistema social e econômico. As diferenças engendradas por este sistema, a mediação destes interesses e mesmo conflitos sociais numa sociedade incipiente e já estratificada, a distribuição dos frutos e benefícios gerados pela expansão, a dicotomia criada entre os de “dentro” e os de “fora” está certamente no centro da atenção das nossas instituições. Até agora o eixo comum da irmandade espiritual tem nos ajudado a harmonizar tudo isto e buscar soluções.
Mesmo assim, ainda hoje se mantém viva a herança do padrinho Sebastião. Esta lembrança está presente na “segunda feira comunitária” na Vila Céu do Mapiá, quando grande parte da população se reúne para um dia de trabalho em prol da comunidade e uma refeição comum no refeitório comunitário.
Cozinha Comunitária do Céu do Mapiá
Convém frisar que a nossa área de atuação está localizada numa região bastante abandonada pelo poder público. É uma região onde os serviços públicos, direitos constitucionais e benefícios sociais são noções vagas e quase inacessíveis para a população. Talvez mais longe que a distância de duas semanas de barco que nos separam da capital do Estado, esteja o nosso acesso ao mais elementar ideal de cidadania.
Na calha do Purus, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de Pauiní de 0,496 mostra a extrema carência deste município, que tem como IDH-longevidade de 0,604, IDH de educação 0,502 e renda um IDH de 0,383. Dentro do ranking de IDH do Estado do Amazonas o município de Pauiní está em penúltimo lugar, ou seja, no 61º lugar dentre os 62 municípios existentes no estado. Se formos considerar o ranking nacional Pauiní está no 5491º dentre a totalidade de 5507 municípios presentes no Brasil. Já Boca do Acre, tem IDH de 0,611, apesar de bem melhor situado, Pauiní ocupa o 37º lugar em nível estadual e a 4.456ª posição em nível nacional.
Na calha do Juruá, uma das regiões mais remotas do território brasileiro, os municípios apresentam índices semelantes. Cruzeiro do Sul, a segunda cidade do Estado do Acre, tem IDH de 0,668, Rodrigues Alves (AC), 0,55, Ipixuna (AM), de 0487 (o pior do estado do estado) e Eirunepé (AM), de 0,562.
Neste vácuo, viemos trabalhando nestas últimas décadas, prestando assistência social aos membros da nossa comunidade e entorno, procurando sustentabilidade em nossos projetos econômicos e sociais, preservando o meio ambiente.
No momento estamos procurando implantar um projeto de segurança e justiça comunitária na Vila Céu do Mapiá, através do CED- Conselho Ético Disciplinar da Associação de Moradores. Nos casos considerados mais graves, recorremos às autoridades políciais. Sempre que possível, procuramos orientar e educar a população, alertando sobre a sua responsibilidade.
Mesmo assim, devido ao difícil acesso a comunidade, a falta de recursos das delegacias de Pauini e a longa distância que as separa, nem sempre a atuação solicitada é atendida, como atestam os reiterados ofícios que são encaminhados e a pouca eficiência dos atendimentos quando são realizados.
Recentemente, a partir de agosto de 2011, tivemos algumas visita de equipes da Polícia Federal em nossa comunidade. Eles passaram vários dias na comunidade, visitando suas localidades, se reunindo com as lideranças, atendendo estrangeiros em situação irregular , consultando o livro de ocorrências do Conselho Ético-Disciplinar e nos orientando nas questões de segurança comunitária.
Visita da Polícia Federal - 2014
No início de 2014 tivemos nova visita para apuração de antigas denúncias e como sempre, prestamos todas as informações necessárias. Deixamos claro que a orientação oficial das nossas instituições internas são sempre incentivadoras da ordem, do respeito e da cidadania e embasada nos valores espirituais da nossa tradição religiosa.
Ocorrências de ilícitos na área da FLONA e do entorno da nossa comunidade, são atribuições do Poder Público e da chefia da unidade de conservação.