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Resposta do psiquiatra Dartiu Xavier
da Silveira à revista "VEJA"
Em 11/09/2000
Com referência à matéria
intitulada "O barato legal - O chá de ayahuasca é uma droga como qualquer outra.
Mas o governo faz vista grossa", publicada na edição de Veja de 13/09/2000
Ao Editor-chefe da
Revista Veja
Prezado Senhor,
Fui procurado há
duas semanas pelo jornalista Ricardo Galhardo que veio me solicitar informações
técnicas a respeito do consumo de ayahuasca em nosso meio. Dispensei especial atenção
ao sr. Galhardo tendo em vista a delicadeza do assunto. Em nossos contatos, forneci a ele
grande quantidade de informações no sentido de aparelhá-lo para que pudesse ser escrita
uma matéria adequada ao estágio de conhecimento de que se dispõe atualmente sobre o
tema.
Entre as
informações por mim prestadas ao sr. Galhardo, destaquei:
- a existência de distintos padrões de uso de substâncias psicoativas, com significados
e repercussões diferentes para seus consumidores.
- a não constatação do fenômeno dependência química entre os usuários habituais do
chá.
- os motivos que fundamentaram a autorização do uso da substância em contexto ritual
religioso por parte do Conselho Federal de Entorpecentes(CONFEN).
- a existência de evidências de que o uso do chá em contexto ritual religioso tem
acarretado sobretudo benefícios e, muito raramente, consequências
indesejáveis.(Mencionei inclusive um trabalho científico realizado em nossa
instituição que documentou a existência de quinze dependentes graves de álcool que se
tornaram abstinentes a partir do momento em que passaram a frequentar os rituais da seita
União do Vegetal).
Confesso que fiquei
absolutamente perplexo ao constatar que, apesar de todo meu empenho, o teor da matéria
publicada pela Veja opunha-se frontalmente ao que eu havia transmitido ao sr. Galhardo.
Questiono ainda como
um veículo de comunicação com a penetração de Veja manipulou as informações por mim
prestadas, deturpando idéias e conceitos que se tem hoje em dia a respeito do consumo
desta substância. O embasamento científico sobre o qual nos apoiamos para tratar o tema
foi simplesmente adulterado para a elaboração deste texto preconceituoso e tendencioso,
sabe-se lá a serviço de que ideologias ou interesses específicos.
Aguardando seu
posicionamento sobre tão lamentável ocorrido,
Dr.Dartiu Xavier da Silveira
Coordenador do PROAD
Programa de Orientação e Assistência Dependentes do Departamento de Psiquiatria da
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
c/c: Secretaria Nacional Anti-Drogas (SENAD); Departamento Médico-Científico da UDV |
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