Sobre a
apreensão de Santo Daime
na Espanhaveja também:
Estado de São Paulo: Matéria #1
O DIA: Matéria #1, Matéria #2, Depoimento de Ney Matogrosso
Carta de esclarecimento
de Frei Betto enviada ao advogado Rafael Burgos
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São Paulo, 19 de abril de 2000
Estimado Licenciado Rafael Burgos,
Em favor de Luis
Fernando Ribeiro de Souza e Francisco Corrente da Silva tenho a dizer, como frade
dominicano e escritor, que são inocentes perante as leis brasileiras, os canônes da
Igreja católica e a moral e os bons costumes.
Os dois são adeptos
do Santo Daime, uma doutrina indígena, enriquecida com tradições afrobrasileiras e
cristãs, cuja liturgia está centrada na ingestão de um chá à base de erva - a
ayahuasca.
Desde que os
colonizadores ibéricos aportaram na América Latina, encontraram os povos indígenas
habituados à ingestão da ayahuasca, por razões rituais. Com o passar do tempo,
reduziu-se significativamente o limite entre os povos indígenas e a população
não-indígena, facilitando a participação dos moradores de cidades no ritual religioso
conhecido por Santo Daime (de Deus e de Dar-me, numa evocação reverente de abertura ao
Transcendente).
Posso, com muito
acerto, compará-la ao incenso, cuja aspiração reduz a sensação de fome e dilata a
disposição espiritual. No entanto, não me consta que esteja sob suspeita em nossos
países.
Venho, pois,
trazer-lhe esses elementos para que o senhor possa usá-los como bem lhe aprouver, em
defesa dos dois brasileiros.
Atenciosamente,
Frei Betto |