Acabamos de ouvir uma palestra sua só sobre os
florais e o Centro Medicina da Floresta. Então, agora queríamos que você falasse mais
sobre o Daime.
Foi no Daime que eu recebi minhas próprias curas. Ele trouxe a
consciência. É a consciência que cura mesmo, né? Sem a consciência não existe a cura
verdadeira. E o Daime é que trouxe esse auto-conhecimento, a compreensão de tudo que
aconteceu, por que chegamos aonde chegamos e qual é a direção. Porque antes era apenas
uma intuição que a gente tinha, que ia procurando até chegar nesse ponto que o
Daime revelou.
A cura espiritual passa pelo auto-conhecimento. É isso?
Ah, é! Porque se não tiver a consciência, é difícil se curar. É
preciso conhecer e ser paciente para a cura ser duradoura. Porque senão, você anda pelos
caminhos e se distancia novamente; pode se distanciar muitas vezes da sua meta se não
tiver a memória, a consciência de quem é, de onde vem, do que veio fazer aqui. Então,
essa cura espiritual tem que passar por esse estudo, né? E esse estudo o Daime traz, ele
apresenta.
E a mediunidade? Muita gente chega no Daime e trabalha isso de uma
maneira intuitiva, sem saber direito o que está acontecendo, aí passa por apuros que
talvez fossem mais fáceis de superar com algum tipo de instrução.
Eu acho muito importante desenvolver o estudo dessa instrução, porque
o Daime abre isso para todas as pessoas mas abre espiritualmente, né? Então,
dentro da consciência material da pessoa, nem sempre é fácil aparelhar tudo aquilo e
ter a compreensão no plano da matéria, da mente e do comportamento. Então, eu acho
importante trabalhar com a instrução daqueles que já estudaram, porque já existe muito
conhecimento revelado, inclusive pelos canais espirituais, mediúnicos. Existe muita
literatura e muitas práticas que podemos desenvolver. O Daime mesmo nos dá instruções
nesse sentido; e os nossos próprios guias dentro do Daime também nos dão instruções
nesse sentido, então só nos resta mesmo é praticar, né? Desde que cheguei no Céu do
Mapiá, venho trabalhando sistematicamente nisso, porque foi o próprio Padrinho
Sebastião quem me ordenou e me instruiu (e ainda hoje me ordena e me instrui!) no sentido
de trabalhar. Porque essa é a vontade mesmo, né? Cada um tem a sua missão. A minha
está ligada a esse aspecto mediúnico, porque cheguei com esse dom. Antes de chegar no
Daime, eu já trabalhava na linha de umbanda e na Mesa Branca espírita. Eu fui formada
dentro do espiritismo e da umbanda. Nesses estudos, desenvolvi meu aparelho até um certo
ponto. Dentro do Daime é que esse ponto se elevou. Mas foi muito importante que eu já
tivesse essa formação para poder receber a luz do Daime e evoluir dentro dela, entendeu?
Quando eu cheguei no Mapiá, que o Padrinho Sebastião mandou eu ir para a mata, abrir uma
clareira lá junto com o Vô Corrente, para poder chamar os caboclos para curar os
doentes, aquilo me surpreendeu, porque eu pensava... Não só pensava, como disse a ele:
"Mas, Padrinho, para que o senhor precisa de caboclo? O senhor já tem tudo: já tem
a Luz, a Verdade, a Justiça, a Sabedoria, o Amor, tudo na sua mão". Ele disse:
"Mas eu preciso dos caboclos, minha filha! Porque meu povo não tem capacidade de
acompanhar a luz do Daime e os caboclos é que vão me ajudar a limpar o canal do meu
povo, para ele poder acompanhar a luz do Daime". Então, essa clareza ele me deu da
dimensão exata daquele trabalho conforme foi que os caboclos fizeram comigo: essa
limpeza, esse aparelhamento, essa compreensão, essa caridade. Tudo isso que é um
bê-a-bá muito simples: a pessoa se entregar ali na mão daquela entidade, para ela vir
aparelhar e fazer a caridade. O trabalho com o pensamento, tudo isso é o bê-a-bá da
história: a fé, a entrega, a caridade; a humildade que é preciso ter, porque se a
pessoa se engrandece, aparelha outras coisas que não são os guias de cura, que são
aqueles trapaceiros, aqueles embusteiros que vêm. A pessoa já tendo aquela instrução
de base, quando entra no Daime, já tem mais condições no plano material dela para poder
lidar com tudo aquilo. O Padrinho também tinha isso, também se desenvolveu numa banca
espírita, já trabalhava com os guias dele de cura antes de chegar no Daime então
ele tinha essa clareza, de como isso facilita a vida da pessoa dentro do Daime. Muitas
vezes a pessoa vai dentro do Daime se conhecer, vai saber que já tem relação com
aquelas falanges e entidades de outras vidas, então já traz de outro tempo aquela
missão. Tudo o Daime vai nos ensinar: a aparelharmos o nosso Eu Verdadeiro, o nosso Eu
Superior, que é o principal e único verdadeiro aparelhamento que devemos conservar para
sempre, né? O resto, são tudo alianças espirituais.
Queríamos também que você explicasse essas várias categorias de
trabalho de Cura, Estrela, São Miguel e Mesa Branca. Quais são os degraus, a ordem que
se deve percorrer, a periodicidade que se recomenda fazer esse tipo de trabalho...
Vou tentar, né? Lá no Mapiá também a gente passa por ciclos
diferentes. Quando o Padrinho estava encarnado, a gente trabalhava muito na Estrela. É um
trabalho bem evoluído, onde a pessoa já vai apresentar o serviço, um trabalho de Cura
aberto para as passagens de muitas falanges de todas qualidades e já é o exercício
mesmo daquela cura, a manifestação e o processamento. Como o Padrinho tinha uma
evolução tão superior de seu espírito na matéria, ele dava aquela marca na corrente.
Ele era tão desenvolvido que a presença dele material imprimia um nível no trabalho
que, depois que ele passou, ficou mais difícil de encontrar. Hoje em dia, tudo mudou
muito, porque a irmandade cresceu muito. A missão do nosso dirigente hoje também
aumentou muito o serviço, né? Eu sinto que o tempo mesmo trouxe a necessidade de
diversificação dos trabalhos. Que já naquela época o Padrinho foi quem abriu e mandou
criar esses trabalhos de formação. O Padrinho Alfredo também: ele recebeu o trabalho de
São Miguel, um trabalho muito importante de limpeza da corrente espiritual que tem
a ver com as demandas, as obsessões, essas coisas todas. Ele vai trabalhar na limpeza de
tudo isso e dos nossos comportamentos, da nossa relação com o eu de cada um, com
tudo que nos acompanha. Então, é um trabalho da Doutrina mesmo. Nem sempre acontece
assim, mas temos estabelecido entre o Padrinho Alfredo e nós, da equipe de cura, mais ou
menos que devemos fazer um trabalho de São Miguel e duas Mesas Brancas por mês. Isso
não é uma rigidez, porque às vezes a gente vai e faz outros trabalhos e não faz
aqueles, às vezes tem muitos hinários, às vezes a gente resolve fazer o trabalho de
Cura tradicional. As Concentrações do Mestre Irineu também são trabalhos de Cura:, se
a gente estiver bem limpinho, não precisa de mais nenhum trabalho de cura. Não acontece
assim porque mesmo que a gente, individualmente, possa até estar caprichando e se
limpando, trabalhamos dentro de uma corrente e a corrente absorve todas essas impurezas.
Porque é da missão absorver a impureza, para transmutá-la, né? Já no trabalho de
Estrela, tem espaço para tudo: trabalhar com espíritos sofredores, com as falanges dos
mensageiros da Terra, que são os exus; trabalhar com caboclos, guias do Oriente,
entidades crianças, pretos velhos, outras qualidades de curador, de todas as falanges
diferentes, e outras linhas que não são de incorporação, que já são mais
esotéricas: tudo tem passagem dentro de um Trabalho de Estrela.. ou não. Depende do que
está acontecendo. O trabalho mais aberto que tem é o trabalho de Estrela e a Mesa
Branca. Só que a Mesa Branca trabalha com chamada. É um trabalho didático, uma escola:
vai chamando por linha. Chama uma linha, depois manda embora; chama outra, manda embora...
Então é um trabalho didático, uma escola.