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Situação do sacramento Ayahuasca no Canadá -
O Caso de Juan Uyunkar

Débora Bolsanello, Antropóloga e Mestranda da Universidade de Québec em Montreal (UQAM), envia relato sobre a difícil situação de um shaman sulamericano no Canadá, e solicita auxílio.

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Decisão da corte da
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Rf. SITUAÇÃO DO SACRAMENTO AYAHUASCA NO CANADÁ - O caso de Juan Uyunkar

Caros Padrinhos, Madrinhas e irmãos da Irmandade do Santo Daime e da Barquinha,

Caros Mestres e Conselheiros da União do Vegetal,

Desejamos partilhar informações sobre a situação internacional do sacramento em questão.

Recentemente, tomamos conhecimento do caso judicial de Juan Uyunkar (50 anos) e seu filho Edgar Uyunkar (23 anos), dois curandeiros ecuatorianos da tribo Shuar.

Juan Uyunkar tem 30 anos de experiência como uwishin (curandeiro e líder espiritual). Ele foi iniciado pelos anciãos de seu povo quando era jovem. Desde então, ele tem curado enfermos com problemas os mais variados. Ele viajou para presidir cerimônias de cura e palestras em diferentes países : Colômbia, Guatemala, Espanha, Egito e Estados Unidos. Edgar Uyunkar é seu filho mais velho e herdeiro de seus conhecimentos como curandeiro. Os dois trabalham com remédios naturais da farmacopéia sagrada, dentre os quais figura o Natem (Ayahuasca).

Em Maio 2001, eles foram convidados pela nação indígena Wikwemikong da Ilha de Manitoulin (Província de Ontario - Canadá) para presidirem cerimônias de cura onde o Natem (Ayahuasca) seria comungado por todos os participantes. A visita de Juan e Edgar Uyunkar foi organizada e financiada pelo Naadwedidaa Health Center (Centro de Saúde), sobre a responsabilidade do conselho da nação indígena Wikwemikong. Mais de 300 pessoas foram tratadas por Juan. O sucesso desse intercâmbio cultural foi tão grande que o diretor do Centro de Saúde pediu a Juan que voltasse ao Ecuador e trouxesse mais Ayahuasca para continuar o trabalho que tinha sido iniciado no Canadá.

Em 19 de outubro de 2001, de forma inesperada, uma sra. indígena de 71 anos, enferma, falesceu no hospital, logo após ter participado de uma das cerimônias presididas por Juan e seu filho, sediada no Naadwedidaa Health Center. A autopsia não indicou nenhuma ligação entre o consumo de Natem (Ayahuasca) e o óbito da dita sra. No entanto, Juan e seu filho Edgar foram acusados de tráfico de drogas e negligência causando morte. Estão detidos no Canadá desde 2001 aguardando sua primeira audiência, que se desenrolará por cinco semanas, a partir de 31 de março de 2003.

O Natem (Ayahuasca) tem sido usada pelo povo Shuar por centenas de anos. Ele é um sacramento e um medicamento que é profundamente enraizado na cultura Shuar. Assim como o Santo Daime e o Vegetal para as Irmandades daimistas, udevistas e da Barquinha, o Natem (Ayahuasca) é para os Shuar uma planta sagrada usada em cerimônias de cura para o desenvolvimento espiritual do ser humano e do planeta Terra.

Se não fora a fiança paga por uma das participantes da cerimônia, a sra. Judith Jones, Juan e Egar estariam en cárcere. Desde 2001 eles aguardam seu julgameto Atualmente, eles estão em liberdade condicional e como estão impedidos de trabalhar, vivem da caridade dos amigos. Suas famílias passam por grandes dificuldades financeiras de garantir a sobrevivência de suas famílias, que os aguardam ansiosamente no Ecuador. Juan é pai de 12 crianças em idade escolar e Edgar tem uma esposa e um filho de dois anos. Dois dos filhos de Juan tiveram de abandonar a escola por falta de recursos.

Nós acreditamos na honestidade e na competência de Juan e de Edgar como representantes de uma tradição milenar. Através desta carta, viemos afirmar nosso apoio à sua defesa. Eles não são responsáveis pelo falecimento da sra. indígena nem são traficantes de drogas. Juan e Edgar foram convidados pelo Naadwedidaa Health Center a presidir as cerimônias com uso ritual da Ayahuasca.

O caso de Juan é uma situação concreta onde está em jogo o reconhecimento das tradições religiosas cujo sacramento é a farmacopéia sagrada. Em anexo, enviamos uma carta escrita pelo próprio Juan ao atual presidente do Ecuador, argumentando sobre sua inocência e defendendo o valor do sacramento do qual ele é porta-voz. O segundo anexo é uma carta em inglês narrando sobre o caso e pedindo ajuda às irmandades daimistas, udevistas e da Barquinha sediados fora do Brasil.

O caso de Juan toca aos grupos daimistas e udevistas internacionais, na medida em que sua eventual condenação acarretaria em uma maior resistência dos governos internacionais ao reconhecimento do Santo Daime/Ayahusca como prática espiritual ancestral.

Convidamos aos membros e dirigentes das irmandades daimistas e udevistas a serem solidários ao caso, tendo em vista a fragilidade do uso ritual da Ayahuasca nos países estrangeiros. Sobre a mesma terra onde nasceram as tradições contemporâneas Santo Daime, Barquinha e União do Vegetal, há centenas de anos, os Shuar já colhiam o Cipó e a Folha...

As igrejas daimistas da Espanha e da Holanda, que recentemente obtiveram a legalização do uso ritual do sacramento Santo Daime após duras batalhas jurídicas, enviaram ao advogado de Juan, William Trudell, todos os documentos relativos ao processo de reconhecimento legal do Santo Daime nesses países.

Pedimos que os membros e dirigentes das irmandades daimistas, udevistas e da Barquinha escrevam cartas de apoio ao caso, mencionando o status legal do Santo Daime no Brasil e estudos científicos provando que o uso ritual do sacramento em questão não constitui risco para a saúde pública.

O reconhecimento legal do sacramento Santo Daime/ Ayahuasca fora do Brasil dependerá do bom desfechamento do caso de Juan e Edgar Uyunkar. A colaboração das irmandades daimistas, udevistas e da Barquinha é, sem duvida, muito importante. Ela prova que aqueles que consagram essa santa bebida estão a defendê-la face à lei dos homens, pois crêem que a Justiça é divina.

Agradecemos sua atenção e ajuda. Esperamos de coração que a liberdade de Juan e Edgar possa ser o prenúncio da legalização do Santo Daime e da União do Vegetal na América do Norte.

Os documentos e cartas de apoio devem ser enviados para o advogado de defesa de Juan Uyunkar, William Trudell e para a consuleza do Ecuador em Toronto, Isabel Valdez de Escala. As cartas para o advogado podem ser enviadas para o email: deborabolsanello@yahoo.com e estas serão encaminhadas direta e imediatemente para o sr. William Trudell. As cartas para a consuleza poderão ser enviadas à ela
diretamente.

  • William Trudell
    15 Bedford Street
    Toronto - Ontario
    Canada
    M5R 2J7

  • Senhora Consuleza Isabel Valdez de Escala
    Consulate of Ecuador - Toronto
    151 Bloor Street ouest nr. 470
    Toronto - ON
    Canada
    M5S 1S4
    Fax: (416) 968 - 3348
    ctoronto@idirect.com

  • Anishnaabek in Support of Indigenous
    Medicine International (ASIMI)

    "Anishnaabek em apoio das tradições medicinais indígenas internacionais"

  • Débora Bolsanello
    Antropóloga e Mestranda da Universidade de Québec à
    Montreal (UQAM).
    deborabolsanello@yahoo.com

  • Hugues Bonenfant
    Professor de Filosofia
    Doutorando en Filosofia na Universidade de Québec à
    Montreal (UQAM).
    hbonenfant@collegeem.qc.ca

  • Judith Jones
    Bióloga
    j2@j2.nu

Carta escrita pelo próprio Juan Uyunkar
ao atual presidente do Ecuador

Exelentissimo Coronel Lucio Gutierez Borbua
Presidente de la Republica de Ecuador
Quito, Ecuador Amazónico 13 Enero, 2003

RE: Dos uwishin Shuar de Amazonía, Ecuador necesitan ayuda en la defensa de su medicina y cultura.

Distinguido Señor Presidente:
Recibe saludos cariñosos desde La Isla Manitoulin, Ontario, Canada.

Ahora que ha llegado la oportunidad aprovecho para saludarlo y felicitarlo de todo corazón y sobre todo, por la madurez que ha experimentado nuestro país en las ultimas contiendas electorales donde su triunfo ha sido muy amplia en todo el país. Estoy muy satisfecho por su gran triunfo, ya que los pueblos originarios junto con Pachakutik hemos esperado durante años a un verdadero lider democrático como usted.

Yo soy Juan Uyunkar Tiutar, uwishin (medico naturista), Shuar, con 36 años de experiencia en el manejo y uso de las plantas medicinales de mi pueblo.

Además, debo informarte que en los ultimos acontecimientos politicos de la guerra del Cenepa Ecuador y Perú, serví como guia humano, pertenezco al grupo Arútam sobre este particular General Paco Moncayo conoce bien de todos mis méritos durante ésta guerra.

Te escribo desde Canada porque yo y mi hijo Edgar Uyunkar, nos encontramos, en una confrontación muy difícil, con la policia y autoridades del gobierno de Canada por defensa de nuestras medicinas tradicionales, ansestrales y milenarias, Natem (caapi), Tsaank (tabaco) y todos las plantas medicinales de nuestra Amazonía, motivo por el cual me honro dirigirme a su digna autoridad de manera muy comedida y respetuosa.

Quiero poner a su conocimiento que, nosotros no somos imigrantes, fuimos invitados por las autoridades del Subcentro de Salud de Wikwemikong (primera nación originaria del norte de Canada) y ancianos de esta nación. A un encuentro sobre rescate e intercambio de medicinas tradicionales, cuyos eventos se realizaron a partir de 1 al 20 de Octubre de 2001, en dicho encuentro mi hijo y yo realizamos sanaciones muy buenos con 300 personas que estaban muy enfermos unos desauciados.

Durante este intercambio y practicas de sanaciones, murio una anciana de 73 años de edad, que tenía severos problemas medicos. Quiero informarle de manera más honesta, clara y sincera, que la señora no murio por nuestras acciones, ni por la medicina. Las prácticas de autopsia no encuentran nada. Usted sabe que los pacientes desauciados mueren frecuentamente aún bajo el cuidado intensivo de la medicina moderna, más nadie sale acusado de un delito criminal.

Pero como se trata de la practica de medicos nativos y extrangeros con la medicina natural, las autoridades aquí nos han acusado de causar una muerte. Nuestros abogados contestaran fuertamente en la corte que no existe conexión entre la muerte y nuestra medicina. En la misma noche, 70 otras personas, más ancianos y más enfermos tomaron el mismo té medical sin problemas.

Además, nuestra medicina sagrada Natem, (conocido como ayahuasca o Banisteriopsis caapi) usado por los Shuar por miles de años, en Canada al desconocer lo consideran como pósima, droga, alucinógeno, e ilegal. Las autoridades me han acusado como traficante de drogas. El caso es un ataque directamente contra la cultura y medicina de mi nación. Estoy acusado simplemente por el uso de Natem. Si nuestra medicina sagrada Natem es ilegal en Canada, entonces es decir que toda la nación Shuar y todo nuestro país debe estar en la carcel, si es posima todo nuestro país debe estar muerto. Si es droga todos los Shuar son adictos, locos y enfermos.

Lo que yo hice es dar sanacion para los enfermos que me pidieron, y esto no es un crimen, no es ilegal en Ecuador. Si no más bien esta medicina cuida a la nación Shuar por vision al Arutam (Espiritu Protector). Estoy ayundando a la humanidad curarse de un modo natural. Cuido y mantengo la cultura ancestral, milenaria que es de nuestra decendencia. ¿Si Canada tiene buenas medicinas farmaceuticas, porque existen tantos enfermos y piden nuestras medicinas? ¿Si saben que es ilegal, porque me invitaron a traer la medicina aquí por segunda vez? ¿Porque las autoridades de la policia tanto de Ecuador como de Canada me dejaron pasar?

El gobierno de Ecuador debe defender la cultura Shuar y todas del país a los ojos del mundo de afuera. Porque las culturas antiguas milenarias forman una riqueza de nuestro país. El gobierno de Ecuador debe hablar con el gobierno de Canada para que se respeten y no se lesionen nuestros valores y la vida de nuestra cultura, lo que causara gran escandalo a todas las naciones originarias de nuestro país y a todas las naciones y culturas originarias del mundo. Que el uso de Natem son prácticas ancestrales y religiosas. Lo que practican y viven los Shuar es una cultura y religion muy antigua viva.

El uso de Natem es una practica muy valiosa, es sagrada. Con esta practica nuestros ancianos mantubieron sanos a nuestra nación Shuar. Con esta practica el gobierno de Ecuador mantubo a su ejercito, Arutam, Iwias, y todas las fuerzas avancadas en la guerra de Cenepa. Por lo tanto, el gobierno de Ecuador conoce muy bien el uso de Natem(ayahuasca o caapi). ¿Donde está el crimen por el uso de Natem, si nuestro gobierno lo usa? El gobierno de Ecuador debe defender este uso sagrado, valioso que hoy está acusada en Canada como droga, pósima. Además en el mundo entero esta misma medicina está usada por los expertos, cientificos y medicos para curar la drogadicción.

Cada persona, no solo los Shuar, tiene el derecho a escoger su forma de tratamiento preferido. Defender nuestra cultura tambien es defender a un derecho humano.
Por esta razon, pedimos que nuestro gobierno hable entre gobiernos y se trate de nuestra extradición. Este ataque contra una cultura y tradición milenaria es un insulto y desvalorización de las culturas de nuestro país en los ojos del mundo.

Usted puede conectarse directamente con mi abogado, William Trudell en Toronto, Canada para saber más de la situación antes de un encuentro entre gobiernos. Su numero de teléfono es 01 416 598 2019. Tambien, su digna autoridad puede hablar con la consulata de Ecuador, la Señora Isabel Valdez de Escala en Toronto al numero 01 416 968 2077. Ella a hablado mucho con nuestro abogado y conoce muy bien la situación.

Las autoridades: como La Señora Ministra Nina Pakari, General Paco Moncayo, las autoridades de la Universidad San Francisco, Señor Militares: Vicente Unkuch, celestino Chumpi, Licensiado Marcelino Chumpi de CODEMPE, Señor Presidente Pablo Tsere de la Federación Shuar, CONAIE, CONFENIE, COICA, el Alcalde de Cayambe, Cotacachi y otras conocen de esta lucha y su importancia.

Si usted necesita saber la situación difícil de mi familia por este caso, puede visitar personalmente o enviar alguna comisión. Viven en la parroquia Guangopolo, Via Intervalle de Quito. Preguntar al señor teniente politico de la población por la Señora Rosa Pinchupá, familia Uyunkar. Allí sabrá entender la difícil situación inhumana en la que está viviendo mi familia ya que durante este tiempo la migración Canadiense me han negado no trabajar en Canada ni dejarme salir a mi país a causa de la fianza. Estoy un año imposibilitado sin poder costear la subsistencia de mi familia. Sé que este juicio va llevar muchos años porque se trata de lucha politica y de clases sociales indigenas. ¿Como creen las autoridades de Canada que mi familia va vivir? Esto es un genocidio, un crimen. Estan atacandonos por el color de la piel, por la raza. Esto es un delito penalizado a los ojos del mundo, donde queda la aparente razón, los derechos humanos y culturales?

Necesito urgente conectarme mediante telefono con su digna autoridad esperando que el nuevo gobierno de Ecuador va escucharme sobre esta necesidad tan importante, para nuestra extradición. Nuestro país tiene que hacer respetar todos los valores culturales de sus conciudadanos ya que nuestro país es un país pluricultural, plurietnico, y multinacional.

Exelentísimo Señor Presidente, por la atención que se digne dar acogida a mi solicitud anticipo mi gratitud y mi más alta consideración y estima de ested.

Atentamente,
Dios, Patria, Libertad y Cultura


Juan Uyunkar Tiutar Edgar Wainchatai Uyunkar Samik
Uwishin, Medico Naturista Uwishin, Medico Naturista

c/o Judith Jones
R.R. no. 1
Sheguiandah, Ontario
P0P 1W0 CANADA
tel. 01 705 368 0734
e-mail: etsa_arutam@hotmail.com

 

 


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